MARITZA CANECA

Série Piscinas

Curadoria e texto Vanda Klabin

Paço Imperial, Rio de Janeiro

23/06 – 21/08/2016


As piscinas de Maritza Caneca: tempo suspenso

A série fotográfica das piscinas de Maritza Caneca traz de volta uma espécie de memória longínqua que reveste as lembranças perdidas no tempo, que ela materializa em um universo anônimo. As piscinas às vezes parecem nos interrogar e nos desafiam a uma espécie de aventura do olhar, são como um leitmotiv para construir novas camadas de significados em torno de uma mesma série de imagens e reafirmar sua relação estética com o tema. No seu campo de ação, encontramos uma história imbuída do seu passado ou erosões e, pelas suas lentes, Maritza as transforma em um território transbordante de vivências e ressignificações. As piscinas parecem conter uma espécie de episódios de vida e adquirem um inquietante e belo repouso nessas imagens que guardam os vestígios da memória dos outros, um tênue fio entre a presença e a ausência, e retêm um curso do tempo que parece suspenso, congelado, atemporal.

Esse universo anônimo é materializado pelos seus cliques e transformado em uma verdadeira transcrição poética da nossa vida cotidiana. As imagens transmitem uma visualidade inquieta, densa, condensada; são como uma estética em repouso. Parecem estar numa inesperada serenidade, como se estivessem ali, paralisando a mobilidade do mundo. Inertes, estáticas, inanimadas, talvez pressentindo alguma mudança. Evocam um silêncio e uma oscilação como se quisessem reagir, adquirir uma súbita musculatura e afirmar a sua realidade física. Nesse discurso silencioso, esvaziado do teor significativo do conteúdo da matéria-prima que utiliza, o pensamento plástico se instala, cria hiatos entre a imagem e aquilo que a representa, como uma membrana que interage entre nós e o mundo real. O que trazia, na sua aparência, a diversidade torna-se recorrência. O que parecia disperso passa a ser conectado e agrupado. Nessa interlocução entre a garimpagem do olhar e a captura dessas piscinas, a artista gerou um fluxo de imagens repletas de cromatismo e com forte presença de traços geométricos. Maritza Caneca encontra sua gramática poética no ritmo da vida real e somos tragados pelas sugestivas imagens que formam uma escritura pessoal, como se participássemos também desse encontro privado que se interpenetra no território impreciso que singulariza a sua experiência estética, uma cadeia de instantes que nos fazem dialogar com a sua captura do jogo ilusório do real. Essa sua gramática sugere uma pluralidade de significados e pode se apresentar às vezes como um documento visual perturbador, aparentemente aberto a um terceiro sentido, e trazer nova porosidade para a nossa percepção.

Vanda Klabin