ANNA PAOLA PROTASIO

Fios e Formas

Curadoria e texto Marisa Flórido

Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010


Uma trança pende de uma torre de pequenas torres de xadrez. Outra torre mínima, transparente, flutua solitária envolta em teias de cobre. Se uma ecoa na imagem de si, uma metaimagem, a outra se concentra em sua unidade. Se uma dirige-se ao alto, a outra reverbera para um núcleo ao centro. Se uma sonha fugas, a outra se recolhe ensimesmada.

Cones de tricô e fios de lã são tensionados por um agigantado peso de madeira que se contrasta à delicadeza do gesto de fiar ali aludido. Um bloco de concreto ergue-se suspenso, como se ignorasse a gravidade e a brutalidade de sua matéria. Gaiolas diáfanas, cárceres de cristal, caem prisioneiras de ilusória liberdade.

Objetos comuns que Anna Paola Protasio seqüestra da banalidade do cotidiano para reestruturá-los pela arte, para abrir os dias e as melancolias a outros sentidos e outras miragens. Se torres e tranças, fiandeiras e cones de tricô nos levam ao imaginário feminino, a suas fábulas e anseios; blocos de concreto e gaiolas vigiadas nos trazem à metrópole contemporânea, aos terrores e delírios de controle que nos assombram.

Deslocados para o universo da arte, tais objetos repetidos ou unitários, agigantados ou diminutos, graves ou frágeis, introduzem, no estupor das horas inexatas, os sonhos e as dores, as fantasias e as quimeras, a solidão e os temores. Revelam-nos o peso e a leveza dos dias.

Marisa Flórido