MARIA FERNANDA LUCENA

Kodak 12 poses

Texto Bruna Araújo

Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea

07/08 – 08/09/2023


Kodak 12 poses

Maria Fernanda Lucena

O processo criativo de Lucena é ancorado em vestígios. Resgatar lembranças e estabelecer uma relação de troca com o que encontra. Frequentadora de feiras de antiguidades, tem por hábito colecionar objetos e retratos alheios, mas revolve também seu passado. Os lugares que visitou, ambientes domésticos, acessórios e itens decorativos que compunham esses cenários, os álbuns de fotografia e vídeos filmados pelos pais. Desse universo, subtrai cores, impressões, símbolos e signos.

Nesse conjunto de pinturas que Maria Fernanda escolhe nomear de “Kodak 12 poses”, ela convoca memórias pessoais e coletivas. É inevitável associarmos este nome à empresa norte-americana que produz itens relacionados ao cinema e à fotografia e foi uma das responsáveis por popularizar filmes de rolo e a câmera fotográfica portátil, sobretudo no Brasil onde está instalada há mais de um século. Contudo, a opção pelo nome não tem caráter homenageante. É uma escolha íntima, fruto de uma identificação cromática e afetiva, uma aposta no gesto, no clique e na crença que só a fotografia analógica pressupõe um percurso.

Lucena opera em uma espécie de arqueologia visual. As camadas de tinta, não por mero acaso, sugerem que houve um processo de prospecção, revela-se algo recoberto por uma fração do tempo, resquícios cronológicos e a simbologia de uma época. Todos esses elementos editados no presente nos permitem ter a sensação de existir um tempo não linear, mas oportuno, a possibilidade de criação de um lugar para onde nós e as coisas momentaneamente regressemos.

                                                                                                        Bruna Araújo