LAURA VILLAROSA

“A (des)ordem natural das coisas”

Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea

Texto Bruna Araújo

16/06 – 31/07/2025


A (des)ordem natural das coisas”

             Os primeiros versos do poema “As águas”,de Manoel de Barros“Desde o começo dos tempos, águas e chão se amam. Eles se entram amorosamente e se fecundam nos ajudam a pensar a nova produção de Laura Villarosa.

A exposiçãoA (des)ordem natural das coisas”nos conduz por um percurso caudaloso, por meio de paisagens que ganham corpo, volume e ritmo. Nas 11 obras aqui apresentadas, a presença da água manifesta-se de maneiras distintas. Além das técnicas têxteis, do modo de tecer desenvolvido pela artista e da pintura, base de seus trabalhos anteriores, há, nesta série, o uso da plasticidade, que fertiliza e, intencionalmente, extrapola o plano.

Em algumas obras, o material recentemente incorporado à pesquisa de Villarosa, a cerâmica, aliada à tinta e à costura, molda um fluxo aquoso capaz de se conectar com a terra. Em outras, a mesma massa, ainda crua, eleva-se e navega céus azuis. Há também aquelas em que a água aparece por meio de fios espraiados, destinados a seguir o curso que lhes convém.

Em suas composições, Laura não busca um controle absoluto sobre a forma final, e, sim, uma colaboração com os próprios materiais, permitindo que decidam como a obra se completa. A escolha da mutabilidade como método parte de reflexões afinadas com as temáticas ambientais, a observação da ordem e da desordem que coexistem nos sistemas naturais e a ideia de que o tempo não se inscreve em linha reta, mas nos ciclos.

É como se observássemos uma floresta através de uma pequena janela. Existe nos objetos uma presença oculta, que, mesmo estáticos, parecem conter em si o movimento contínuo de algo que escapa e corre em silêncio. Uma atmosfera impregnada de mistério, a qual transita entre a robustez, provocada pelo excesso de matéria, e a quietude de horizontes límpidos. 

A investigação de Laura mergulha nesse bem comum, líquido primeiro que chama o mundo à forma, de onde todos nós partimos, que em seu curso parece encontrar novamente o poeta: “Todos somos devedores destas águas”.

                   Bruna Araújo