MARCUS ANDRÉ

Tamoia Califa

Texto Heloisa Amaral Peixoto

Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea

11/07 – 19/08/2022


A partida para a escolha de um múltiplo serigráfico do artista Marcus André teve inspiração na sua obra instalativa vencedora do prêmio “Projéteis Funarte 2006” realizada no hall do icônico edifício modernista Palácio Capanema, no centro do Rio de Janeiro.

Desde que o artista se propôs a executar uma pintura mural de grande porte, de caráter panorâmico e espacial, utilizando a têmpera e a encáustica, duas técnicas milenares, estabeleceu-se na sua produção um tipo de ritual narrativo formal de interpretação bastante singular do que entendemos como “paisagens”.

Na experiência de conduzir a sua expressão de modo integrado aos aspectos arquitetônicos do entorno, o artista incorporou as premissas do contexto muralista e levou para as suas pinturas uma série de propostas estruturadas na superposição de linhas e outros grafismos.

Consciente de que o seu percurso é compreendido dentro de uma poética intercambiável, no diálogo entre procedimentos e métodos produzidos para diferentes fins, e no seu caso em especial, na prática íntima com a xilogravura, Marcus André passa a rearticular as suas pesquisas trazendo de volta a superfície do seu suporte, a madeira.

Deixando mais exposta a matéria, ele explora a sua textura e aparência natural, assim como determina as áreas de intervenção cromática, aplicando as suas técnicas combinadas.

Esse procedimento vem acompanhado desta vez de elementos geométricos mais ampliados, que ganham mais contornos e volumes, e ainda sugerem um plano de terceira dimensão.

Seus recentes trabalhos produzem uma sensação de apropriação de ingredientes de raiz cultural popular, entretanto há uma presença da metrópole invadindo a pintura.

Nesse duplo contato com a tradição artesã e da cultura de massa, própria do cenário urbano, as suas formas e signos se acomodam na madeira. O suporte material é também poético.

Partindo da natureza vão se encadeando a criação, a transformação e a síntese, e uma inédita visualidade vai se revelando em simples e eloquentes acontecimentos.

Heloisa Amaral Peixoto