LEONARDO VIDELA
Afeto Contínuo
Texto Omar Porto
Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea
28/11 – 20/12/2022
Em Afeto contínuo, Leonardo Videla nos coloca dentro de um campo de possibilidades através da cor e das formas. Suas pinturas em guache em escala reduzida apresentam fluxos formais e contínuos como os próprios processos de pensamento e troca de afeto. Isso também acontece na série onde o artista se apropria de elásticos e constrói relações materiais e formais a partir da elasticidade do material em contraste com o suporte utilizado. Aqui o pensamento de pintura ganha um campo ativo para o olhar.
O título dessa exposição surgiu através de conversas em seu ateliê, onde o próprio artista trouxe essa ideia de fluxo e continuidade como forma de ir além das rupturas, entendendo também as descontinuidades como parte desses modos de existência. Aqui trazemos esse afeto como possibilidade de imaginação enquanto continuidade e não como ruptura. É uma forma de pensar não só as relações humanas, mas a própria prática artística, seu processo de pesquisa e seus possíveis desdobramentos.
Esse caráter fluido presente em seus trabalhos pode ser apreendido como uma vontade de movimento que nessa exposição se torna afeto ainda contínuo através das escolhas formais e materiais do artista. Interessa observar esse modo de construção de uma prática que toma partido das possibilidades da matéria e dos resultados que cada uma delas provoca, seja no uso do guache, seja no uso do elástico.
Desse modo, pensando a relação entre corpo e espaço, Ferreira Gullar em seu poema chamado O espaço, vai trazer a ideia das coisas que o instituem em uma construção pela palavra e arquitetura:
não há espaço vazio
cada espaço
é feito
dos corpos que estão
nele
que o deformam e o formam
é feito
de suas energias
e cargas elétricas
ou afetos
É estratégico imaginar o afeto enquanto constituinte do espaço. Pensar nele enquanto formador é uma maneira de entender o espaço expositivo que propomos nesta exposição em uma relação corpo, espaço e afeto. Dessa maneira podemos elaborar a prática do artista a partir do pensamento do espaço e da falsa ideia de controle. Suas pinturas em guache e seus trabalhos com elástico podem ser vistos como desenhos de paisagismo ou abstrações de projetos. Uma possibilidade de arquitetura que parte do mesmo ponto problemático e individual da disciplina, ou seja, uma observação planar sobre a cidade e a natureza, mas que na arte ganha um campo de imaginação poética e até mesmo cartográfica.
Omar Porto